sábado, 15 de setembro de 2012

Portugal: hoje "caiu a ficha"

Hoje assisti pelas televisões às manifestações que encheram as ruas de Lisboa, e de outras cidades no país. Depois ouvi os balanços e os comentários. Voltei a ver as reportagens, os testemunhos.

Estou fora de Portugal há dois anos e é com uma enorme angústia que vejo o sofrimento com que tantos pais e avós vivem diariamente, sem saber que futuro terão os seus filhos e netos. Na maioria das declarações recolhidas na rua, esta preocupação foi nota dominante.

"Tenho três filhos. Eu não quero que os meus filhos tenham de emigrar para sobreviver", dizia uma mãe desempregada em lágrimas. Deu-me um nó na garganta!

Eu já estou fora. Já deixei os meus pais, as minhas duas avós, a minha irmã, os meus sobrinhos, a minha família, os meus amigos. Na partida, para enganar a dor da separação, convenci-me que ia voltar. Convenci-me que era uma experiência de alguns anos, mas que em menos de nada estaríamos de volta.

Depois convenci-me que, dentro de pouco tempo, os meus pais iam poder levar os netos à escola, como tanto queriam. Convenci-me que eu ia poder ver os meus sobrinhos crescer. Convenci-me que daqui a pouco voltaria a estar presente em todos os aniversários e datas importantes. Convenci-me que ia de certeza envelhecer na minha cidade, no meu país, ao pé deles.

Essa ilusão durou até hoje. Hoje "caiu a ficha"! O regresso ficou sem dia. Os planos ficaram em branco.

Hoje não sei dizer quando, nem se vamos voltar. As palavras daquela mãe desempregada não me saem da cabeça. Eu também não queria emigrar. Eu também não queria ficar longe dos meus pais. Eu também não quero ficar longe dos meus filhos.

Mas, tal como aquela mãe, cujas lágrimas revelam uma certeza que as palavras ainda tentam calar, também eu temo um futuro feito de separações indesejadas.

Se não conseguirmos voltar, se os meus filhos crescerem aqui, também eles vão ter um dia a sua família. Os meus netos já não vão falar português. Os Natais vão ser ano sim, ano não. As visitas "à terra" serão só no Verão, as "raízes" não passarão de fotografias presas em molduras de um passado que já não lhes pertence.

E nós vamos ficar encalhados. Encalhados num país que não é o nosso mas já é o deles. Encalhados numa vida onde colhemos frutos mas nos faltam as raízes. Encalhados num regresso para sempre adiado transformado numa profunda saudade!






6 comentários:

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    1. Pois :(. Ver aquela gente toda tão triste e angustiada com o futuro dos filhos foi muito forte. Esta semana vou apostar num pensamento mais positivo e acreditar que tudo vai melhorar. Tudo tem de melhorar :)

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  2. Óptimo texto, mas tão triste, triste...
    Um grande abraço.

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    1. Obrigada Turista. É um grande desalento, mas há que manter a esperança :)

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  3. Maninha
    Tudo vai melhorar e tu vais voltar para as tuas raízes e para junto de mim :)
    Adoro-te!
    Bjs

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  4. Ritinha, a minha ficha já caiu há uns 2 anos, mas nós só nos conhecemos porque somos pessoas cheias de esperança. Mesmo que nos chamem crentes, nós temos esperança num mundo melhor, que podemos fazer a diferença. Eu assumi há 2 anos atrás que não ia voltar tão cedo, mas VOU VOLTAR.
    De qualquer modo acredito que nós voltaremos todos, qual 25 de Abril, um dia, fartos de estar fora e que vamos popular Portugal novamente. Talvez os nossos Pais não levem os netos à escola, mas de certeza que vão poder ensiná-los durante as férias de verão e do natal que Portugal é o País mais bonito do mundo e que é e pode ser bom lá viver. E eles vão voltar e nós também. Nós vamos voltar Ritinha e vamos ter uma casa chamada Candeia onde os miúdos não vão à Candeia mas vivem NA Candeia, e os nossos putos vão ser megas em tudo porque vão ser eles que nos vão ajudar. Eu sei, sou uma crente.

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