terça-feira, 7 de junho de 2011

Uma história que é coisa séria!

Filho,

Hoje não escrevo aqui para contar as tuas aventuras ou para partilhar as tuas macacadas. Hoje escrevo-te por um assunto um bocadinho mais sério que só irás compreender daqui a uns anos, mas que é muito importante para os papás e que foi ainda mais importante para os teus avós e bisavós, por ter sido uma conquista dura mas alcançada.

Quero dizer-te que ontem Portugal - o nosso país - elegeu um novo primeiro-ministro. O papá e a mamã tiveram a sorte de conseguir participar nessa eleição. Apesar de estarmos a viver em Espanha, não quisemos deixar de participar naquela que, para nós, foi uma das eleições mais importantes das nossas vidas e, acreditamos, da vida do país.

Infelizmente, nem toda a gente conseguiu votar e sabemos que algumas pessoas têm boas razões para não o ter feito mas, de quem te quero falar hoje é daqueles que, podendo, não o fizeram.

Isto não é um sermão! é mais uma reflexão que gostava que lesses quando tiveres idade para depois decidires tu como vais tratar este assunto.

Deixa-me então contar-te uma história:

Era uma vez um menino que nasceu numa terra no interior de Portugal. Era pobre, a mãe teve de o criar sozinho e não tinha dinheiro para o pôr na escola. Muito cedo teve de ir para a academia militar, onde o acordavam às seis da manhã com duches frios e o obrigavam a seguir uma dura disciplina onde a brincadeira tinha pouco espaço.

Esse menino viveu sempre a obedecer a ordens, nunca teve oportunidade de dizer o que queria nem o que pensava. Esse menino cresceu, fez-se homem, andou na guerra, viu muitas coisas feias, mais do que possamos imaginar! Se calhar nem queria lá estar, mas nunca lhe deram hipótese de escolher. Não podia falar!

Esse menino, agora homem, não aguentou ver tantas injustiças e, como não podia falar, começou a escrever. Escreveu em vários jornais denunciando essas mesmas injustiças, algo que, para uma época em que a liberdade de expressão não existia, foi uma autêntica "bomba" e acabou por lhe valer o fecho de muitas portas e até a prisão.

Mas esse homem  não desistiu. Lutou toda a vida e, apesar de nada mais ter a oferecer que o seu carácter e a sua honestidade, nunca baixou a cabeça e seguiu em frente, acabando por conquistar a admiração de amigos e até de inimigos, que reconheciam nele uma bravura pouco comum.

Esse homem era o teu bisavô materno! um homem extraordinário cuja dureza da vida lhe moldou o feitio, nem sempre fácil, mas que sempre lutou por aquilo em que acreditava.

O teu bisavô não pôde escolher a vida que quis. Mas decidiu escolher o homem que queria ser!