quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Hoje, pela primeira vez ....

A choradeira das primeiras semanas de escola há muito que se tinha transformado em choraminguice, num apelo resignado de quem já percebeu que não adianta o protesto (e de quem também já não sente razão para protestar).

A adaptação foi difícil mas, quase dois meses depois do início da escola, posso dizer que o baby gosta do "cole" e da professora "elhena" (como ele diz).

Hoje, pela primeira vez, o rambinho não chorou quando o deixei

Hoje, pela primeira vez, subimos as escadas a contar: "um"(1), "tegi"(3), "caco"(4), "xei"(6), "dexi"(10).

Hoje, pela primeira vez, o rambinho abriu a porta e correu para a sala de aula.

Hoje, pela primeira vez, o rambinho não protestou e ficou logo entretido a brincar.

Hoje, pela primeira vez, a mãe do rambinho saiu tranquila da sala.

Hoje, pela primeira vez, o rambinho mordeu (e diz que com alguma força) em dois coleguinhas da escola

... era bom demais para ser verdade não era?

Em defesa do meu filho tenho a dizer que está profundamente arrependido. Quando cheguei para o ir buscar, vinha meio triste. Depois da professora me contar o episódio, ou melhor, os episódios, voltou a avisar o piqueno: "solo besitos, auau no, vale?".

O rambinho, muito envergonhado, olhava para o chão e duas lágrimas gordas começaram a escorre-lhe pela cara. "mãe, dedo, dedo", dizia ele, como que a contar o que se tinha passado. Estava triste e envergonhado, como confirma o recado no diário da escola:

"Hoy mordió dos veces. Raro verdad? Estuvo triste ..."

Apesar de ser um rambinho, a sua rebeldia não se manifesta nem a bater nem a morder nos outros (graças a deus). Apenas o primo já tinha sentido a força da sua mandíbula, mas só depois de várias palmadinhas, empurrões e assaltos "por esticão" aos brinquedos...  agora do nada?

"Que raro verdad?" :(

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Escola: primeiro dia (parte 2)

(escrito a 6 de Setembro de 2010)

Acabei de deitar o Rambinho. A excitação hoje era maior que o habitual. Deixei-o na cama a primeira vez cerca das 21h30 mas tive de lá voltar uns minutos a seguir.

Achei que, depois de se ter portado tão bem no primeiro dia de escola, não era justo negar-lhe um miminho extra.

“Mãe! Mãe! lélé” (mãe leitinho). “Não filho, acabaste de jantar”.

“Mãe?”, diz filho, “qué có”(quero colo). Percebi o pedido pelos braços estendidos na minha direcção... pois foi a primeira vez que o disse.

Contra todas as (supostas) regras acedi no mesmo segundo. Caramba! Hoje não é um dia qualquer.

Ele só queria miminho e aquela brincadeira especial com a mãe. Aquela que ele adora, cheia de abraços, beijos, cóceguinhas, dentadinhas, turrinhas e outros segredos só nossos.

Depois desta pequena rebeldia na hora de deitar, encostou a cabecinha no meu ombro e, com um abraço, perguntou: “Mãe? A titi? ... mãe! Vovô?... mãe! Tio?”

A angústia que consegui engolir de manhã subiu pela minha garganta acima. Dei-me por vencida....

Aconcheguei o meu bebé num abraço apertado e respondi: “a titi, o vovô e o tio mandaram-te um grande beijinho e agora estão a fazer óó”.

Não há dia que passe que o rambinho não pergunte pelos avós, pelos tios e pelos primos. Fazem-nos sempre muita falta, mas hoje, quando o rambinho pôs o pé fora do ninho, tive vontade de poder voltar para o meu.

Escola: primeiro dia (parte 1)


Hoje (6 de setembro) foi o primeiro dia oficial de escola. Oficial porque, pela primeira vez, ficou sozinho com os seus novos amigos, professoras e auxiliares e... sem os pais.

Foi o primeiro dia de uma rotina da qual fazemos parte mas à distância (nós pais). Sobre a qual vamos tendo conhecimento pelas conversas com a professora, pelas informações que se vão partilhando no diário da escola e, de futuro, pelas conversas entusiasmadas dos pequenos aprendizes. É o primeiro olhar para fora do ninho.

O Rambinho largou a minha mão sem grandes problemas. À frente dos seus olhos estavam casinhas, motas e carrinhos que já conhecia numa breve visita que fez dias antes com os pais. Penso que se não fosse a mãe ter entrado e saído da escola por duas vezes, devidamente detectadas pelo seu radar, não teria havido grandes lágrimas.

A choradeira só se deu ao ver a mãe partir depois de um pedido negado que lhe soube a traição. “Abi mãe” (abre mãe), disse confiante, agarrado à cancela que o separava do recreio da escola e do meu colo.

“A mãe vai parar o carro e já vem” repeti, enquanto lhe mandava mil beijos pelo ar. Saí com um nó na garganta quando o vi a chorar de olhar perdido ao colo da professora. “a mãe, a mãe, a mãe”, balbuciava entre lágrimas, implorando que ficasse.

Saí o mais rápido que pude. Lá fora ainda o ouvia. Entrei no carro. Respirei fundo e fiz de tudo para engolir a angustia que já me inundava os olhos. 

Fui ao supermercado. Podia ser que o tempo passasse mais rápido. O telemóvel viajava entre o bolso e a minha mão, pelo menos de dez em dez minutos.

Já é tempo de o ir buscar. Esta semana fica apenas duas horas, para se adaptar. Cheguei 15 minutos mais cedo. Já uma dezena de mulheres, entre mães e “chicas” (empregadas), e dois ou três pais faziam fila no portão, que ainda estava trancado.

Assim que as portas se abriram a ansiedade entre progenitoras eram grande. Numa fila ordeira lá esperámos pela nossa cria, com o desejo secreto que não viesse lavada em lágrimas.

“Vasco! É a mãe” disse-lhe abrindo os braços na sua direcção. “A MÃE!”, exclamou com um sorriso discreto mas de olhos radiantes. Enquanto saíamos dizia olá às outras mães e aos “meni” (meninos) que ali estavam.

Penso que estava feliz por me ver. Talvez até um pouco aliviado, mas com um ar de prova superada. Amanhã há mais.... vá, tudo a fazer figuinhas ;)

O pernalta de "pañales" (fraldas... em espanhol;)


Acabadinhos de chegar, fomos dar uma volta  com o piqueno no “nosso bairro” fechado. Aqui os condomínios são tipo cogumelos, nascem por todo o lado, e nós achámos que era uma boa solução.

A dada altura esbarrámos com os nossos senhorios, também eles pais de filhos (mas três), que estavam com uns amigos, também eles pais de filhos (mas quatro).

Enquanto conversávamos animadamente com os vizinhos deixámos o rambinho travar também amizades com os “chicos” e “chicas” da sua idade (ou quase)

Ele que adora conviver, ou não estivesse sempre a chamar pelos “meni”(meninos), foi inocentemente para o meio da molhada todo contente.

Passados cinco segundos olho para o lado e está o pequenote sentado no chão a abrir um berreiro valente.

E não é que um “manolo” qualquer abalroou, sem dó nem piedade, o meu baby com um empurrão à traição?

“Vá, já passou!" dizia ao rambinho (que estava inconsolável), "não foi nada", repetia 

A verdade é que pensei... olha-me este! um pernalta de “pañales” (fraldas), lingrinhas, trinca-espinhas, que mal sabe falar oferece este kit de boas vindas ao meu filho? Olha lá ó Manolo, tu já olhaste bem para o tamanho do meu baby? Deixa-o crescer uns meses e vais ver!!!!

E é nisto que uma pessoa se transforma quando é pai e mãe.... que vergonha ;). eu com estes pensamentos perfeitamente absurdos e os dois, cinco minutos mais tarde, a treparem uma escadaria, quais companheiros de uma vida.

"es un animalito", diziam os vizinhos, acostumados às travessuras de "su pequeño". A verdade é que o miúdo tem graça... acho que o rambinho desencantou aqui um "el rambo" à sua altura... medo !!!!


E vai para cima de um mês... Olé!

Já estamos há mais de um mês em terras de "nuestros hermanos" e só agora consegui pôr tudo em ordem para voltar a estas lides.

Antes de começar a partilhar o que fui escrevendo entre caixotes, fraldas (sempre as fraldas) e saudades, quero apenas mandar um grd bj a todos os que me têm perguntado por estas "crónicas".

Sabe bem saber que alguém acha graça a isto e que até sente falta quando não há ;). Assim se confirma que "o essencial é invisível aos olhos"...  não te vejo mas tu estás ai ;)

grd grd bj

mummy Ritxinha