quarta-feira, 26 de junho de 2013

Mães pelo mundo: Uma alentejana que "emigrou" para Lisboa e agora vive em Maputo (fotos)

Vista aérea de MaputoVista aérea de MaputoVista aérea de MaputoCrianças a brincar num dos parques infantis (há muitos na cidade e com qualidade)Vista de um restaurante muito simpático em Maputo (https://www.facebook.com/dhowmocambique)Baixa de Maputo (muitos prédios novos, e muita confusao de trânsito)
Vista do Jardim dos Professores (com parque infantil também)Aeroporto em Tete (localizada a cerca de 1570 km a norte da cidade de Maputo)Vista de uma varanda de Maputo, com a avenida Julius Nyerere em frentePraia na Ponta Mamoli (destino turistico a sul de Maputo)Pormenor da bandeira moçambicana no aérodromo na Ponta Mamoli


A partir de hoje o blog do Rambo passa também a contar histórias de (outras) mães portuguesas (ou não) que saíram do ninho, bateram asas e voaram para terras distantes. "Mães pelo Mundo" pretende contar histórias dessas mulheres fantásticas que pegaram na família e arrancaram para sítios desconhecidos, com outras culturas, outras vivências, outros afectos.

A distância, as diferenças, as lágrimas, as gargalhadas, as conquistas e as derrotas de quem se aventurou e partiu, levando na bagagem saudades, mas também entusiasmo, esperança e um espacinho para guardar muitas histórias, como esta, para contar:

Fernanda Coelho tem 32 anos e a sua experiência de mudança começou aos 17, quando saiu do Alentejo para ir viver para Lisboa. Hoje é mãe de uma menina de três anos, a Carlota, e vive em Maputo, (Moçambique) desde Fevereiro deste ano, depois de uma "excelente oportunidade profissional" para o marido, e um desejo secreto de começar algo seu, a terem posto a fazer as malas para África.

"O facto de o meu marido viajar muito também já se estava a reflectir na nossa filha, que manifestava sempre umas saudades imensas. Queríamos construir um futuro a três e esta foi uma excelente oportunidade de estarmos juntos a tempo inteiro".

Durante oito anos Fernanda trabalhou numa consultora internacional mas foi só com a notícia da mudança que finalmente decidiu investir no seu negócio. Criou uma empresa especializada em processos de "Executive Coaching", e outros serviços ligados ao desenvolvimento do "capital humano", e diz que, até agora, trabalho não lhe falta.

Além disso, é uma das fundadoras da página do Facebook, Mums Aroud The World que tem como objectivo encontrar e colocar em contacto mães portuguesas que vivem no estrangeiro. "É um grupo de mães para mães em qualquer parte do mundo, entre fraldas e computadores, entre a casa e o trabalho.
Um grupo criado por duas mães, entre Portugal e Moçambique, que pretende chegar a tantas outras e mostrar que mãe é mãe, em qualquer canto do globo".

A viver há cinco meses em Maputo, Fernanda Coelho diz que, até agora, a experiência tem sido fantástica! "Tudo tem corrido melhor do que eu tinha planeado! O pior de tudo isto são as saudades que apertam o peito!"

Como foi o primeiro impacto?
Foi muito controlado. Eu já sabia o que iria encontrar em África, pois vivi durante um ano em Luanda, em 2007 e 2008. A realidade angolana é muito mais chocante do que a moçambicana. Aqui tenho um misto da parte melhor de África, com quase tudo o que fazia no meu dia-a-dia na Europa. Maputo é uma cidade relativamente pequena (nas zonas onde circulamos preferencialmente), não me sinto insegura e tem uma grande oferta de actividades e parques para crianças. Os táxis aqui funcionam, e os supermercados oferecem a maior parte das marcas que consumíamos em Portugal, embora mais caras.

Como reagiu a família alargada à notícia da mudança?
Esta mudança já vinha sendo falada há algum tempo, quase um ano antes, pois o meu marido viajava muito para cá e foi um assunto muito abordado em família. Naturalmente que quando comunicámos a data de partida, a reacção foi de grande angústia, pois a Carlota tem três aninhos e a família, principalmente as avós, gostam muito de a mimar. Entretanto a nossa mudança teve algumas aventuras que a foram adiando sucessivamente e os meses a mais em Portugal eram uma espécie de balões de oxigénio de saudade. Quando efectivamente nos mudámos, já todos desejávamos a mudança, pois estávamos com a vida em "standby" em Portugal.

E como reagiu a Carlota?
Muito bem! Muito bem mesmo! Fiquei surpreendida com a naturalidade com que ela encarou a casa nova, a escola, os amigos, a forma como lida com a saudade da família em Portugal. Impressionante! Eles têm de facto uma capacidade de adaptação muito superior à nossa.

Qual foi a logística da mudança?
O meu marido assegurou quase tudo sozinho. Ele mudou-se para cá primeiro e ficou alojado num hotel, enquanto procurava uma casa para nós. Em boa verdade, a maior aventura de todas foi mobilar uma casa sem a conhecer - a não ser por fotos - e garantir que se comprava tudo, mas tudo mesmo, desde a base para os copos, o saca-rolhas, até ao sofá, lençóis, toalhas, mesas, camas, colchões, tudo! No caso do quarto da Carlota, replicámos as mobílias e ficou com um quarto muito semelhante ao de Portugal, coisa que ela adorou! O desafio seguinte foi empacotar tudo e enviar num contentor, que demorou um mês a chegar a Maputo e depois, devido a complicações burocráticas, ficou mais um mês retido no porto.

Como funciona o apoio à maternidade e às crianças em termos de saúde em Moçambique?
Tens realidades distintas aqui. O acesso que nós temos em termos de saúde é relativamente bom, mas é feito em clínicas privadas que cá existem. Por outro lado também estamos a poucos quilómetros de distância da África do Sul. Em situação de emergência é para lá que vamos. As mães locais que residem em Maputo têm hospitais públicos que funcionam com as suas enormes carências e ineficiências. As mães que vivem fora de Maputo têm dificuldade em ter apoio em termos de saúde pois ,além dos parcos recursos materiais existentes, também existe muita falta de médicos e de enfermeiros. Há muito boa vontade e voluntariado de enfermeiras, mas as estradas também não são fantásticas e demoramos tempo a chegar a qualquer lugar fora de Maputo.

Há alguma coisa que te tenha surpreendido?
O que acho fantástico aqui é a importância do papel da mãe, o acompanhamento que lhe fazem, a presença e tempo de qualidade que dedicam aos filhos. A minha percepção é que há um grande respeito pelo papel da mãe na sociedade, a família tem um peso muito grande aqui e isso reflecte-se na educação das crianças.
Muitas das crianças que frequentam a escola primária têm de andar quilómetros para lá chegar, mas quando te cruzas com eles na rua estão sempre a sorrir, vestidos com o seu uniforme da escola.

Como fizeste para encontrar escola?
Ainda em Portugal decidimos que a Carlota ficaria em casa comigo nos primeiros meses e que depois iria para a Escola Portuguesa ou para a Escola Francesa. Ao fim de 15 dias de cá estarmos ela pedia-me para ir para a escola brincar com outros meninos e nessa altura pedi algumas referências de creches, pois nenhuma das Escolas tinha vaga em Fevereiro. Entrou para uma creche que nos foi referenciada, adaptou-se muito bem, mas ao fim de algum tempo mudaram-na de sala e ela não tinha empatia com nenhuma das educadoras e auxiliares e deixou de gostar. Entretanto, já tínhamos visitado outras creches e uma delas reuniu todos os requisitos e deixámos a inscrição. A Carlota começou lá no início de Maio e até agora está óptima.

Como funciona aí a licença de maternidade?
Aqui as mães têm direito a dois meses de licença de maternidade e os pais a um dia (o dia do nascimento).

Que conselhos darías a uma mãe que estivesse a pensar mudar para Moçambique?
Para residirmos cá necessitamos de contrato de trabalho para posteriormente solicitar a autorização de residência no país e consequentemente o visto de trabalho. Os nossos filhos estão ao abrigo dos nossos vistos de trabalho. Na 1ª semana em que cá chegámos fui-nos inscrever no Consulado Português para que fiquem com informação a nosso respeito. Procurei uma pediatra para a Carlota para a acompanhar cá, ainda que mantenha contacto frequente com a pediatra de Lisboa. Assegurámos também um seguro de saúde o mais completo possível e que contemplasse evacuação aérea.

1 comentário:

  1. Eu vivo em Luanda desde 2008 e desde Março deste ano com o meu filho Guilherme. E já fui a Maputo de mini férias..Realmente a realidade é ligeiramente mais soft desse lado e muito me agradaria mudar. Gosto de estar em Africa, até consigo gostar que o meu filho seja educado aqui (alguns dias) mas preferia que fosse desse lado de Africa. Se souber de vagas para arquitectas apite pf :) beijinhos de tudo de bom*

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